21/09/2021 às 11h08min - Atualizada em 21/09/2021 às 11h30min

Neopentecostalismo e política no Brasil: Evangelho às avessas

(*) Luís Fernando Lopes

SALA DA NOTÍCIA NQM
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A implantação da doutrina neopentecostal na América Latina com destaque especial para o Brasil já vem ocorrendo desde meados do século XX. A pregação alicerça-se principalmente na defesa da relação direta com Deus, na necessidade do Batismo no Espírito Santo e na compreensão da prosperidade econômica considerada como benção e retribuição por uma vida de obediência a Deus, ainda que orientada por seus representantes pastores, com destaque para o pagamento do dízimo.

Entretanto, no caso do Brasil, o avanço evangélico na esfera política e midiática, apesar de não ser uma novidade tão recente, tem se mostrado complicada para o nosso país que acumula retrocessos. Especialmente para um grupo cada vez mais arrebanhado por essa mensagem de retribuição e prosperidade em razão da vivência de preceitos religiosos, os menos favorecidos economicamente.

As pregações nesses espaços de propagação da “fé neopentecostal” não se restringem ao ensinamento bíblico, mas abarcam pautas políticas e moralistas que têm favorecido, em alguns casos, a eleição de representantes políticos extremistas. Estes uma vez eleitos passam a apoiar pautas que prejudicam o mais pobre, como por exemplo: a reforma trabalhista e da previdência, entre outras, cujos resultados se mostram até aqui contrários aos prometidos.

Assim, num contexto de profunda desigualdade, a religião e seus elementos são utilizados por alguns como artifícios de manipulação para promover divisões e favorecer candidatos políticos aliados, entre outros interesses. A isenção de impostos nos dízimos e doações facilita a acumulação de bens, que se estende à posse de canais de TV, rádios, jornais, empresas, entre outros, os quais passam a atuar totalmente submissos aos interesses dos seus proprietários, independentemente das consequências. Além de agigantar o poder de lobby desses grupos, a posse de tais bens potencializa o convencimento de novos membros seduzidos por promessas de retribuição, milagres e bênçãos de prosperidade econômica.

Mas como é possível um país se tornar cada vez mais “evangélico” e ao mesmo tempo cada vez mais desigual, desumano, preconceituoso, odioso? O Evangelho anunciado estaria sendo pregado às avessas? Com é possível ser a favor da vida, contra o aborto e ao mesmo tempo preferir a posse de armas a alimentos?

Estaria o Evangelho aprisionado e totalmente subserviente a interesses econômicos? O silêncio de muitos líderes religiosos, evangélicos ou não, talvez seja um dos sintomas dessas contradições que assolam nosso país onde a produção da riqueza fica cada vez mais concentrada e a transferência de renda dos mais pobres aos maios ricos ocorre inclusive por meio de instituições religiosas para ficar livre de impostos.

De que valem os dízimos se não forem dados ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva para que comam e fiquem saciados em tuas cidades? (Dt 26,12). “Tirai daqui essas coisas. Não façais da casa de meu Pai um mercado” (Jo 2,16).

(*) Luís Fernando Lopes é Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia, Mestre e Doutor em Educação, professor da Área de Humanidades do Centro Universitário Internacional UNINTER.

 
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