15/03/2022 às 16h44min - Atualizada em 16/03/2022 às 00h00min

Exposição reúne o Antropoceno, Patriarcado e Masculinidade, a Invisibilidade e as suas relações 

Individual do artista Milton Blaser ‘Em se pisando tudo dá’ será aberta no dia 26 de março, às 13h, na Galeria Casagaleria Oficina de Arte

SALA DA NOTÍCIA Bartira Betini
Divulgação.


O impacto da humanidade sobre a Terra, a Masculinidade, o Patriarcado, a Invisibilidade das pessoas e a relação entre eles se encontram na exposição Em se pisando tudo dá individual do artista Milton Blaser, que será aberta no dia 26 de março, às 13h, na Galeria Casagaleria Oficina de Arte, em São Paulo. O título  Em se pisando tudo dá  remete a Pero Vaz de Caminha que foi de uma época com total prevalência do Patriarcado, época que se origina uma visão de mundo que resultou no modernismo e antropoceno. E a expografia terá três pilares: as instalações Prensa e Tiranias, as colagens digitais da série Antropogenias, uma intervenção na parede lateral de tijolos entre as duas salas reforçando a invisibilidade das pessoas e uma intervenção radical e ousada no teto da galeria repercutindo na estrutura da galeria. 


“A mostra foca na inter-relação das questões do Antropoceno, o Patriarcado e a Masculinidade e na Invisibilidade das pessoas, que atuam degradando tanto a natureza e o meio ambiente como também e simultaneamente as relações entre homens e mulheres de todas as etnias, idades e nacionalidades. São os invisíveis”, define o artista.

 

A mostra tem curadoria e texto crítico de Loly Demercian com participação especial e texto do consultor em diversidade e inclusão, Humberto Baltar, relatando a sua experiência pessoal como vítima das consequências da ação combinada do antropoceno e da masculinidade apontadas pelo artista. Baltar estará presente para uma conversa sobre o tema e as obras junto ao artista e à curadora no dia 26 às 14h. Lives estão programadas para acontecer durante o período da exposição.

 

Na intervenção no teto da galeria, Blaser encena uma reconexão ousada com os elementos e ciclos da natureza, quebrando-o e expondo as obras aos elementos naturais. Esta quebra do teto da galeria exatamente sobre a obra propondo a entrada de um foco de luz natural e permanente, iluminando naturalmente a obra, representa um rasgo de revolta do ser humano urbano em direção ao cosmos, remetendo às questões das mudanças climáticas que atravessam o planeta e que permeiam o Antropoceno, assim como as relações da construção e destruição do entulho do teto presente na expografia, que se relaciona com os pisos usados na obra. 

 

A proposta da obra Prensa é trabalhar as vertentes Antropoceno, o Patriarcado, a Masculinidade e a Invisibilidade das pessoas. O Antropoceno está nos pisos usados e mostrados nos seus versos, representação simbólica da destruição do ecossistema, mapas de áreas devastadas, territórios invadidos, queimadas, mudanças climáticas, rios poluídos, barragens que se rompem.

 

Essas questões remetem aos materiais utilizados nos pisos como barro, vidro, areia, que também foram coletados na natureza, trabalhados pelo homem e trazem a memória histórica do seu uso e a própria devastação do meio ambiente para produzi-los.

 

O Patriarcado é exercido historicamente e dominantemente por homens brancos, cis, héteros que determinaram e determinam em escala mundial as ações que provocaram a predação voraz do meio ambiente há décadas e que causou essa nova nomenclatura Antropoceno. Não há preocupação com os bilhões de pessoas no planeta consideradas invisíveis aos seus olhos. É a dominância masculina patriarcal em sua amplitude, agindo inconsequentemente, devastando o planeta.

 

As pessoas invisíveis e anônimas estão representadas na instalação com imagens em preto e branco, sombrias e sem sorrisos, sinalizando o sofrimento advindo do Antropoceno. As três questões, Antropoceno, Patriarcado e a Masculinidade e Invisibilidade permeiam a obra Prensa trazendo à reflexão do espectador a sua posição no complexo sistema em que vive, se alimenta, habita e consome.

 

Já a proposta da obra Tiranias é reforçar a temática do Patriarcado e da dominância da masculinidade, aprofundando a representação simbólica da potência masculina presentes no cotidiano das decisões que afetam de forma danosa e nociva as mulheres, os próprios homens, a população e o planeta, tendo como resultado o Antropoceno.

 

A simulação com colagens digitais da série Antropogenias transmuta em imagens como o capitalismo global levou o mundo à beira de uma crise ambiental irreversível, inaugurando a era do Antropoceno, época geológica marcada por profundas alterações na Terra devido à atividade humana, com predominância histórica do Patriarcado, que impõe uma heteronormatividade, que por sua vez é um comportamento catalisador da era do Antropoceno. 

 

“As consequências do capitalismo global, cuja força motriz foi o Patriarcado, levou o mundo à beira de uma crise ambiental irreversível, inaugurando a era do Antropoceno, época geológica marcada por profundas alterações na terra devido à atividade humana, repercutindo vigorosamente sobre todos nós: os invisíveis, os desimportantes, os anônimos”, enfatiza o artista.  O projeto expositivo como um todo, busca envolver e alertar o espectador sobre a relação entre esses dois conceitos para que juntos possam ser combatidos.

 

“A possibilidade de se ver em obras de arte ainda é raridade na vivência de homens pretos. Embora no Brasil o Patriarcado seja a força motriz que impulsiona todas as esferas de poder, as masculinidades e paternidades pretas permanecem à margem dessa realidade. O apagamento e a invisibilização dos homens pretos os colocam num lugar de constante busca por ressignificação e reconhecimento, passando muitas vezes até mesmo pela reprodução de padrões nocivos, tóxicos e agressivos na busca por um lugar social que os atribua o papel de dominantes, potentes ou poderosos”, afirma Baltar.

 

Segundo o consultor, essa experiência de invisibilização é também comum às mulheres, aos povos originários, ao meio ambiente, às colônias e a tudo e todos que não são o marco zero do Patriarcado. O trabalho do Milton aponta o que acontece com essa visão de mundo em que há um ideal e todo resto é vítima”, garante.

 

Baltar aponta que as obras da exposição  Em se pisando tudo dá  abordam essa inquietude e anseio de sujeitos marginalizados e invisibilizados de forma sutil e ainda assim contundente. “Senti-me convidado pelo artista a me envolver ainda mais na luta pelo mundo inclusivo, plural e diverso que eu quero deixar para o meu filho e todos os que vierem depois”, afirmou.

 

Mostra individual O Homem, o Antropo, o Caos de Milton Blaser

Abertura: Dia 26 de março das 13h às 18h

Local: Casagaleria Oficina de Arte – Rua Fradique Coutinho, 1.216, Vila Madalena, São Paulo. Telefone (11) 3841-9620

Horário de visitação: De 26/03/22 até o dia 23/04/22, das 13h às 19h de terça a sexta, e aos sábados das 13h às 17h 

Entrada gratuita

 

Sobre Milton Blaser

É artista visual graduado pelo Centro Universitário Belas Artes, em licenciatura Desenho e Plástica. Participou por mais de dois anos do grupo de acompanhamento de projetos com os artistas Carla Chaim, Nino Cais e Marcelo Amorim no Hermes Artes Visuais e do grupo de estudos de produção de arte contemporânea com o curador Paulo Miyada e o artista Pedro França no Instituto Tomie Ohtake. Participou também da Clínica de Projetos do Ateliê 397.

Já expos individualmente na Casagaleria em 2019 e no Senac Jabaquara em 2018. Participou de vários salões e coletivas na Oficina Cultural Oswald de Andrade, Galeria LAMB Arts/Hermes Artes Visuais, Salão de Artes Plásticas Praia Grande, Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba, Clínica geral Gran Finale Ateliê 397.

Foi premiado com medalha de ouro em Pintura com o trabalho Monge no VI Salão Internacional SINAP/AIAP. Fez cursos de Antropoceno e Natureza no Paço da Artes, na Fundação Bienal durante a 34ª Bienal, Laboratório de Aplicabilidades e palestras de Arte e Psicanálise no Adelina Instituto. Participou do grupo de estudos Filosofia na Arte Contemporânea com professores da PUC-SP e do curso de O Desenho e outros crimes do desejo na Escola Entrópica do Instituto Tomie Ohtake, com Cadu.

 

Sobre a Casagaleria e Oficina de Arte Loly Demercian

Desde 2004 estabeleceu-se como uma alternativa comercial. Dedicada à arte contemporânea, vem se consolidando como um espaço de exibição e produção de conteúdo, articulando exposições, projetos culturais, workshops, revista digital e programas públicos gratuitos, envolvendo artistas em diversos estágios da carreira. Incentivando e orientando novas ideias e projetos desenvolvidos por artistas emergentes ou já estabelecidos.

 

Sobre Loly Demercian 

Graduada em Pedagogia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1987), graduada em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (2003), especializada no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP) em 2004 e mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2010). 

Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é membro do Grupo de Pesquisa em Comunicação e Criação nas Mídias (CCM) da PUC/SP, coordenado pela Prof. Dra. Lúcia Leão. É curadora independente e proprietária do Centro cultural Casagaleria e Oficina de Arte Loly Demercian. Tem experiência na área de arte/educação, história da arte e curadoria, atuando principalmente nos temas: curadoria de arte, processos artísticos, arte contemporânea, novas mídias e filosofia contemporânea. 

Realizou mais de 32 exposições em artes visuais e projetos culturais. Autora dos livros: “Arte/Educação no Ensino Médio: Um estudo sobre a utilização das novas mídias”, 2014; “Diálogos Possíveis: o tempo e a duração na videoinstalação” (Coord. Regina Giora), 2010.


 
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